ENTREVISTA: KARINA BUHR

Encontramos a cantora e escritora durante uma rápida passagem por Brasília sobre inspiração, amor e liberdade

Clichetes
clichetes

--

por Carolina Cunha, em Brasília

- Eu estou com o nariz completamente entupido de Brasília, avisa Karina Buhr. A cantora recebe o Clichetes no Balaio Café, em uma noite típica da capital federal, conhecida pela baixa umidade do ar.

No dia anterior, ela havia apresentado músicas do disco Longe de Onde num show aberto no Parque da Cidade. Na plateia, aos gritos de “diva”, os fãs elogiaram sua performance arrebatadora, feita em cima do Castelinho, tradicional parque infantil.

Na mesa do bar, Karina é outra. Um pouco tímida, solta quase sem querer que não se sente muito confortável em dar entrevistas. O que ela gosta mesmo é da energia do palco.

- Isso da hora de fazer o show ou quando é peça de teatro, é o momento que eu mais gosto de fazer. Aqui eu fico tentando falar, mas não fico sabendo onde colocar as mãos. E no palco é a hora mais sincera para mim. É o que está ali sabe, diz ela.

Entre um toque de pandeiro e outro, Karina recita textos das páginas de Desperdiçando Rima (Fábrica 231/Rocco), livro de poesias e crônicas lançado em abril deste ano.

O hábito de observar e escrever vem desde menina. Mas esse é seu primeiro livro e surgiu a convite da editora Rocco.

- Depois que ele veio como livro tudo se ressignificou. O que escrevi ali começou a se transformar em outras coisas. Foi engraçado isso. Frases começaram a virar música e a funcionar de outro jeito.

Ela segue como um dos nomes mais prolíficos da música brasileira e lança um novo disco no final deste mês, Selvática, feito através de uma campanha de financiamento coletivo na internet.

Sobre o disco, Karina diz que “a partir da ideia dos animais selváticos, presente em textos sagrados e a maneira como são descritas as mulheres nesses mesmos textos, veio a ideia das mulheres selváticas, com inspirações em guerreiras do Daomé, do Brasil, de todo canto e todo tempo. Um som pesado às vezes, às vezes leve, com pouco de reggae, um toque de ciranda e a percussão voltando aos poucos a fazer parte do meu som”.

Lançar um disco de forma independente não é só uma tendência da indústria fonográfica, mas sempre esteve no DNA de Karina. Ela iniciou na música em 1992, em Recife (PE), tocando percussão e cantando em grupos de maracatu e com músicos que fizeram parte do movimento manguebeat. Em 1997 formou a banda Comadre Fulozinha.

- Comecei a atuar e a cantar no começo dos anos 90 no meio dessa coisa de manguebeat. Eu estava dentro disso. Essa atitude rock’n’roll é uma coisa que tinha lá em Recife e ainda tem. Era como a gente se movimentava mesmo. Todo mundo fazia seu próprio material, ninguém queria ter selo, todo mundo queria ser independente. Isso fica não só em mim, mas na maioria das bandas de lá, essa coisa de fazer o que quer.

A paixão pela liberdade é o combustível para seguir em frente.

- A música que eu quero fazer é essa. Eu vou trabalhar o máximo isso aqui para chegar ao maior número maior de pessoas possível e torcer também para que as pessoas gostem. Mas a ideia não é mudar para agradar o maior número de pessoas. Eu acho que o rock’n’roll está mais aí do que nessa coisa de pular no show.

Fora dos palcos e nas redes sociais Karina também é conhecida por seu envolvimento com causas sociais. Questionada sobre o que a incomoda no Brasil hoje, ela cita questões como a proibição do aborto, a redução da maioridade penal e a censura. Para ela, vivemos tempos estranhos e se posicionar e falar sobre esses temas a deixa confortável consigo mesma.

- Hoje temos uma coisa muito séria de ascensão da censura e do conservadorismo, de juntar religião com coisas sérias e decisões políticas que vão mexer com a vida de todo mundo. É uma questão que é muito séria, é coletiva e começa a virar uma coisinha individual. Isso chegou num ponto que ou se faz realmente alguma coisa em conjunto ou vai ser bem difícil.

--

--