PEGADAS DE UMA KOMBI PELA AMÉRICA LATINA

Uma kombi, dois jornalistas, um mapa na mão e uma boa conexão de wi-fi

Clichetes
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por Andréia Martins

A vinheta avisa: essa é uma viagem como qualquer outra. A ideia é ir perseguindo diferentes lugares, sabores, cores e costumes pela a América Latina. No entanto, essa não é uma viagem comum. É uma aventura a dois, uma rádio e um guia de viagens. Tudo na mesma ideia.

Não há lugar que você tenha imaginado neste enorme continente que Maru e Martin já não tenham passado ou planejem passar com sua “Huella”. Este, o nome dado pela dupla à kombi na qual viajam.

O trajeto dessa viagem sem roteiro — sabe-se apenas que eles saíram da Argentina e viajam rumo ao México — inclui regiões desérticas, com privilegiadas vistas do céu, e outras bem povoadas, onde se provam sabores e descobrem-se personagens e costumes bem representativos do nosso continente. Mas além da viagem a bordo da kombi, esses dois argentinos encontraram um jeito de dividir as experiências na estrada: transformaram a kombi em uma rádio.

Maru e Martin, ela com 38 e ele, 30, são jornalistas e trabalhavam em uma rádio até pedirem licença para viajar. Foi lá que eles se conheceram, em 2004. Além da mesma profissão, o casal logo descobriu outro gosto em comum: viajar.

Nessa aventura, que ganhou o nome de Kombi Rutera (www.kombirutera.com.ar), os dois gravam programas nas principais paradas. Em um podcast você descobre , por exemplo, a melhor salsoteca de Cali, na Colômbia, uma cidade que respira salsa, ali na rua 5 com a 42. E também percebe pelos comentários que Maru não acha os passos da dança tão simples assim. Ou em Quindío, departamento colombiano, onde a tradição manda beber café amargo, guardá-lo na geladeira e nunca ferver a água.

Kombi Rutera
Maru e Martin em Cusco, no Peru

“Nós sempre gostamos de viajar e admirávamos aqueles faziam da viagem um modo de vida. Em 2009, viajamos por dois meses pela Europa e, um ano depois, pedimos licença do trabalho na rádio por seis meses e fomos conhecer a Europa Oriental, África e bastante da Ásia. Voltamos ansiosos para conhecer o nosso continente e começamos a procurar informações. Encontrei muitos viajantes que estavam viajando de kombi pela América Latina, e outros de carro, bicicleta, moto, a pé, e aí os perguntamos ‘por que não?’”, conta a dupla ao Clichetes.

Quem lançou o ultimato é uma informação que o casal já não se lembra. Todos de acordo, arrumaram as malas, a kombi, um modelo de 1983 apelidada de “Huella”, pegada em espanhol, e no dia 17 de fevereiro deste ano caíram na estrada.

Além de deixarem dicas e informações preciosas para quem quer fazer viagens nada tradicionais pelo continente, a dupla levou o rádio para a estrada. Em podcasts, eles falam sobre as viagens, entrevistam pessoas e contam cada aventura vivida durante os trajetos.

Huella, a Kombi que leva Maru e Martin pra lá e pra cá nessa aventura, é uma atração à parte. O novo lar do casal foi comprado de um vizinho de Martin e só passou pelas mãos de dois donos. Para comprar o veículo, eles tivera que fazer uma promessa ao dono: cuidar bem da kombi.

Antes de ser chamada de “pegada”, a Kombi foi Suria. “Trocamos o nome porque gostamos da ideia de deixar nossa pegada pelo caminho”, conta a dupla. “A kombi atrai muita gente e nos ajuda a quebrar o gelo. As pessoas se aproximam e, obviamente, acabamos contando quem somos, de onde viemos e para onde vamos”.

Kombi Rutera
A kombi Huella em estrada em San Juan, na Argentina

“Sempre destacamos que, mais do que uma viagem, isso é um sonho”, dizem os jornalistas sobre o seu atual dia a dia. Maru conta que antes de embarcar na kombi rutera muita gente perguntava como ela iria sobreviver. Tal pergunta — ou talvez a resposta — nunca a preocuparam muito. “Vou viver do que sei fazer e do que mais eu aprender”, diz segura. Um dia, ela ainda planeja publicar um livro com fotos de suas viagens, duas paixões combinadas.

A transformação com a experiência que já dura 270 dias e algumas horas com mais de 17 mil quilômetros percorridos, fará com que Maru e Martin voltem diferentes à Argentina. “Viajando temos plena liberdade de escolher a vida que queremos viver. Sabemos onde acordamos, mas não sabemos onde vamos dormir. O dia vai se arrumando minuto a minuto, e podemos passar por imprevistos e gratas surpresas. Todos os dias são diferentes, e isso é o que mais gostamos”, diz Maru.

Quando Maru fala que geralmente não sabe onde vai dormir, não está exagerando. Ao longo do ano, além da kombi, o casal viveu perambulando por hotéis, albergues, campings e casas de família pelos países que já passou até agora: Argentina, Bolívia e Peru.

Neste momento o casal está cruzando a Colômbia, seguindo firme rumo ao México. A data de retorno da viagem, no entanto, não é um assunto no qual Maru e Martin pensam muito. Aliás, não há planos para a volta. Todo o plano do casal hoje se resume em uma frase: “Queremos chegar ao México contornando o Pacífico, e depois voltar à Argentina pelas margens do Atlântico”.

Antes de voltar para a terra natal, eles fazem questão de passar pelo Brasil. Para esse momento eles se dizem ansiosos. “Queremos estar aí para a Copa de 2014. É um grande objetivo a cumprir (risos)”. Assim como a própria Copa do Mundo.

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