UM PEIXE PELUDO À SOLTA PELA CIDADE

Rafael Moralez e Rodrigo Bueno falam sobre a HQ Peixe Peludo 2 — O Herói da Raça

Clichetes
clichetes

--

ROTEIRO, ENTREVISTA E PRODUÇÃO: ANDRÉIA MARTINS E CAROLINA CUNHA

FILMAGEM E EDIÇÃO: DIEGO RINALDI

[dropcap]Numa[/dropcap] cidade como São Paulo, não seria estranho cruzar na calçada com um peixe peludo caminhando pelas ruas, segurando seu trompete em uma das mãos e carregando um fluxo ácido e acelerado do pensamento do outro lado do corpo, em busca de um sentido para a sua existência.

Ranzina para uns, fora d’água para outros, a história desse animal invertebrado que gosta de pensar enquanto flana pela metrópole, não foi pensada para que ele fosse visto de nenhuma dessas duas formas. Os autores da HQ lançada em 2010 e que agora ganha uma continuação, Peixe Peludo — O Herói da Raça, acham que ele é um personagem crítico e perfeitamente inserido na paisagem urbana.

Essa cidade é cinzenta, barulhenta, zoomórfica, caótica, misturada e underground. Quem leu o volume 1 da saga do Peixe Peludo, vai encontrar agora uma cidade com ângulos mais abertos nos traços de Rodrigo Bueno, e também um discurso mais afiado, nos escritos de Rafael Moralez, lembrando em alguns momentos a acidez de Henfil nas suas tiras de Os Fradins.

O mote para a segunda HQ é a busca de um trompete perdido em uma noite de porre –a ressaca é um estado constante do peixe. Em suas andanças — agora não só a pé, mas também de bicicleta, já um item integrado à rotina de Moralez — , fica claro que o grande personagem da HQ é a cidade de São Paulo e suas feridas. Nesse aspecto, a dupla consegue contar uma história realista, mas sem romantizar o caos da metrópole.

Sob duas rodas ele dá um rolê pela região mais underground da cidade, o centro, passando pela Cracolândia, pela região do antigo bar Ecléticos — eternizado na HQ — , e ainda pela Marginal Tietê, encarando carros e caminhões na contramão de uma das mais movimentadas vias de São Paulo.

Tanto Rodrigo quanto Rafael tem uma relação longa com a cidade. Foi onde eles se lançaram à sorte, o primeiro, vindo de Presidente Prudente, o segundo, de Piracicaba, ambas no interior paulista. Seus caminhos se encontraram quando foram estudar em Londrina (PR) e depois, por pura sorte, se reencontraram em São Paulo. Não se sabe se o Peixe Peludo é que estava no destino deles ou viceversa.

- São Paulo é doente. Já sai daqui e voltei três vezes, conta Rafael ao receber o Clichetes em seu apartamento.

Ele não esconde que esse fluxo caótico, especialmente para quem enfrenta a cidade a pé ou usando o transporte público, é uma fonte de inspiração pesada para quem gosta de escrever. Caso de Rafael.

- Sempre escrevi, desde pequeno. Tanto que na escola eu repeti quatro anos e só ia bem em português. Tenho uma relação muito boa com a escrita, diz ele, hoje formado em filosofia e cursando doutorado em economia.

Para Rodrigo, designer e ilustrador, não bastava apenas caminhar pela cidade e observar a vibração, era preciso reconhecer os detalhes das construções, da arquitetura que molda o espaço em que convivemos.

- Eu vim para São Paulo sem nada certo. Só com uma mochila. A gente morava num lugar bem pequeno, mais ou menos no centro, ali na Frei Caneca. Então eu passava muito tempo na rua, andando.

Foi assim que ele fotografou a cidade, que no volume 2 aparece mais detalhada do que na primeiro quadrinho. Os desenhos trazem referências artísticas, como a obra O Grito, de Munch, e Jean-Michel Basquiat. Nessa volta, a consciência do Peixe Peludo está ainda mais ácida. Dependendo do seu estômago, é recomendável deixar à mão o sal de frutas.

hq2

PARA ADQUIRIR A HQ, VISITE A FANPAGE DO PEIXE OU MANDE UM E-MAIL PARA O RAFA (moralez555@gmail.com).

--

--